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quinta-feira, abril 24, 2008

Jornalista americano critica rolhas de rosca e defende as de cortiça

O jornalista americano Paul White criticou ontem, em Vila Real, a utilização das rolhas de rosca (screw cap) no engarrafamento dos vinhos, defendendo a tradicional rolha de cortiça para a manutenção da qualidade deste produto.

Paul White foi um dos oradores do "Infowine Fórum", congresso organizado pela Vinideias e que decorre entre ontem e quarta-feira, em Vila Real, contando com a participação de cerca 400 pessoas, onde se destacam alguns especialistas mundiais em Viticultura e Enologia.

O jornalista é americano, editor e crítico de vinhos, reside actualmente na Nova Zelândia, colabora com algumas das mais prestigiadas publicações internacionais e pertence ao júri de prova de concursos mundiais como o "Concours Mondial de Bruxelles" ou o "London's International Wine Challengue".

O tema abordado pelo americano, "o efeito anti-terroir da baixa permeabilidade da 'screw cap' em vinho, suscita grande controvérsia desde há alguns anos, quando a introdução destas rolhas de rosca, na Austrália e Nova Zelândia, entraram em competição com as rolhas de cortiça.

Desde a sua introdução no final dos anos 90, os vinhos engarrafados com 'screw cap' aumentaram em cerca de 90 por cento na produção da Nova Zelândia e 70 por cento na Austrália.
Paul White foi bastante crítico à utilização da rolha de rosca, salientando o impacto dos fenómenos de redução provocados por este vedante no pós-engarrafamento, em condições próximas da anaerobiose (relacionada com a ocorrência de reacções químicas na ausência de oxigénio que desenvolvem aromas estranhos nos vinhos).

Referiu que, naqueles países, para tornar os vinhos seguros para o engarrafamento com rolhas de rosca, colocou-se uma "enorme confiança" no sulfato de cobre como tratamento preventivo antes do engarramento e como tratamento curativo no pós-engarrafamento.

O jornalista salientou ainda que um 'pinot noir', originário da Nova Zelândia e vedado com 'screw cap', foi recentemente rejeitado pela União Europeia por causa de um teor de sulfato de cobre de 2.6 miligramas por litro, "corroborando as suspeitas de que níveis ilegais de resíduos são regra, em vez de excepção".

Na Europa, o máximo permitido é de um miligrama por litro.
Paul White considera que o vedante sintético altera o vinho, não preservando a "sua alma nem as suas características genéticas".

Para o enólogo Mário Andrade, os níveis excessivos de cobre encontrados no vinho neozelandês, estão relacionados com "más práticas enológicas".
O enólogo, que trabalha nas regiões do Ribatejo, Alentejo e Algarve, referiu que uma empresa italiana está a desenvolver um 'screw cap' que permite uma "maior permeabilidade do oxigénio", que poderá inibir os problemas de redução que provocam os odores estranhos nos vinhos.

Mário Andrade diz que a tónica principal a colocar nesta questão é "qual é o melhor vedante que podemos utilizar nos diferentes vinhos".
O especialista está a utilizar nos seus vinhos topo de gama, para envelhecer a muitos anos, rolhas de cortiça natural.

"Não estou satisfeito com nenhum dos estudos até agora em termos de vedantes alternativos, pelo que optei por uma rolha de cortiça natural", salientou à Lusa.

Já para os vinhos tintos, que consomem mais oxigénio, são de gama média e duram cerca de dois a três anos, elegeu as rolhas técnicas, as quais salienta que não levantam problemas de TCA (gosto da rolha) e que permitem uma boa vedação e permeabilidade do oxigénio.

"Em vinhos brancos e rosés, para consumo de um ano ou dois anos e de maneira a conservar a frescura, estou a utilizar 'screw cap'", salientou.

Para utilizar a rolha de rosca, Mário Andrade diz que teve que mudar as "práticas enológicas".
"A principal mudança está a nível dos antioxidantes. Não posso proteger tanto o vinho da oxidação", explicou.

O enólogo aderiu à 'screw cap' há três anos, sendo o vedante utilizado numa empresa ribatejana que já exporta 80 por cento da produção.

A enológa Bárbara Sistelo, que conjuntamente com a engenheira agrícola Leonor Santos, organizou o "Infowine Forúm", referiu que lhe custa a imaginar "os vinhos de topo do Douro com uma rolha que não seja de cortiça".
No entanto, se o mercado exigir uma solução alternativa diz que aceita outro tipo de vedantes.
"No futuro, vai haver uma grande mudança tanto a nível de vedantes como da embalagem em si. Eu acho que os novos consumidores são abertos a modas e mudanças, precisam de ser alimentados com novos produtos. Vai acontecer a nível de bebidas e no vinho isso não é excepção", salientou.

Bárbara Sistelo considerou "surpreendente" a visão de Paul White sobre esta matéria, já que, segundo frisou, trata-se de alguém que vem directamente do Novo Mundo e que demonstra ser "anti 'screw cap' e pró cortiça".

Quanto ao congresso, a responsável referiu que se tenta fazer, nestes dois dias, "o encontro entre a investigação e as fileiras da produção e da comercialização".
No teatro de Vila Real, foi montada uma zona de 'stands' onde se está a promover uma bolsa de contactos entre as empresas do sector, e onde estão também os representantes em Portugal de vinhos estrangeiros que estão no top de vendas a nível internacional.

O objectivo fundamental da Vinideas, sediada no ninho de empresas de Vila Real, é "divulgar junto dos técnicos e empresas do sector, a investigação que é feita nas universidades".

A Vinideas está ligada ao grupo internacional Vinideanet, que publica uma revista de Viticultura e Enologia, difundida através da Internet (infowine.com), que tem desenvolvido várias acções de informação/formação para o sector.

Agroportal - Lisboa,Portugal.

terça-feira, abril 22, 2008

Chinês gasta U$ 500 mil em 27 garrafas de vinho

da Reuters, em Londres

Enquanto a crise provocada pela inflação no mundo força muitos consumidores a diminuir as despesas, um bilionário anônimo em Pequim bateu recorde ao desembolsar U$ 500 mil (o equivalente a mais de R$ 800 mil) para comprar 27 garrafas de vinho tinto, informou a companhia londrina Antique Wine.

O empresário chinês adquiriu amostras do vinho francês Romanée Conti, produzido na Borgonha e considerado um dos mais exclusivos do mundo, com apenas 450 caixas produzidas por ano.

"É o maior preço que alguém já pagou por um único lote", afirmou um dos diretores da Antique Wine, Stephen Williams. "Não acho que ele comprou como um investimento, ele comprou para beber", complementa.

A compra anterior do bilionário chinês foi uma caixa de Château Petrus, um dos vinhos mais caros do mundo, pela qual pagou cerca de U$ 60 mil (mais de R$ 100 mil).

O diretor da Antique Wine afirma que o mercado de vinhos finos é "completamente imune aos efeitos da inflação global" e que a China refinou o gosto pelos "mais complexos vinhos da Borgonha".

quarta-feira, abril 16, 2008

Percepção e realidade: a ilusão do preço alto


Estudo com aficionados de vinhos revela: quanto mais caros os rótulos, mais os consumidores gostam deles. (Álvaro Oppermann).


Uma das disputas mais encarniçadas entre os enólogos é se fatores psicológicos influem ou não na avaliação de vinhos. Bem, talvez o estudo recente da escola de negócios da Universidade de Stanford e do Instituto de Tecnologia da Califórnia (CalTech) não sirva para descrever um Robert Parker, mas deve ter aguçado os sentidos de pelo menos alguns responsáveis pelo marketing do mais nobre dos líquidos aos mortais comuns.



A pesquisa descobriu que o preço da etiqueta na garrafa de vinho influi na sensação de prazer advinda da degustação da bebida.
"Nós descobrimos que o preço não é apenas uma inferência de qualidade, mas sim um elemento que afeta de forma real a experiência da degustação", diz o indiano Baba Shiv, professor de marketing de Stanford e coordenador da pesquisa (também apreciador de bons rótulos, hábito adquirido ao se mudar para a Califórnia).


O preço afeta de maneira real o gosto da bebida, aponta estudo de Stanford
Na pesquisa, foi monitorada nos participantes a área do cérebro que experimenta o prazer, nos córtices medial e frontal. Foi-lhes dado o mesmo vinho para beber, porém com etiquetas de preço diferentes, de US$ 5 e de US$ 45. Na hora e na vez do cálice supostamente mais caro, essa parte do cérebro tornou-se mais ativa nos pesquisados. Segundo Shiv, a experiência prazerosa advém não apenas de dados concretos (como o sabor), mas também da expectativa formada a priori sobre a experiência (algo que um preço superior indicaria). Não por coincidência, numa pesquisa anterior de Shiv, feita com drinques energéticos, os participantes que pagaram o preço integral da bebida tiveram mais facilidade de resolver testes do tipo quebra-cabeça do que os participantes que compraram os drinques com desconto.



Alguns anos atrás, o professor de psicologia cognitiva Frédéric Brochet, da Universidade de Bordeaux, conseguiu confundir a avaliação de 54 especialistas franceses entre vinhos brancos e tintos, ao utilizar corantes inodoros nos brancos. "O cérebro é supereficiente", diz Shiv. "Existe uma sincronia perfeita - e uma sobreposição - entre a sensação em tempo real e a antecipação da sensação no cérebro, que age como um sistema de navegação, um GPS", observa Baba Shiv.
Foram recrutados 11 voluntários para a pesquisa - todos do sexo masculino, além de entusiastas de vinhos tintos -, que receberam a missão de degustar as bebidas, feitas de uvas Cabernet Sauvignon. Apesar de apenas três vinhos serem distribuídos na degustação - cujos preços reais eram US$ 5, US$ 35 e US$ 90 - os pesquisadores introduziram duas etiquetas falsas na pesquisa, fazendo com que o suposto número de bebidas crescesse para cinco. Dois exemplares do vinho mais barato foram servidos, com etiquetas de US$ 5 e de US$ 45. O procedimento inverso foi adotado com a bebida mais cara, que recebeu também uma etiqueta de US$ 10. Os rótulos permaneceram ocultos aos participantes. Entre as degustações - feitas em ordem aleatória -, foi servida água mineral.


O resultado da pesquisa talvez entre para o anedotário da enologia. Todos os participantes puderam sentir diferenças entre os cinco cálices servidos, classificando como melhor o vinho de US$ 90 e, em segundo lugar, o de US$ 45 (na verdade, uma garrafa de US$ 5). Todos os participantes tiveram um aumento de atividade cerebral diante das etiquetas maiores.
Qual o impacto dessa pesquisa para a indústria vinícola? Shiv sorri: "Não dá para saber se essa experiência pode ser reproduzida com experts, mas o meu palpite é que sim. Espero que eles tomem parte".



Negocios Edição 14 - Abril de 2008